O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 115 / 279

Que há de mais belo do que contemplar a vida e encontrá-la branca como um lírio? Eu e a vida somos como um jovem e a sua noiva. Vautrin mostrou-me o que acontece após 10 anos de casamento. Que diabo! A minha cabeça está confusa. Não quero pensar em nada, o coração é bom conselheiro.»

Eugène foi acordado do seu sonho pela voz da gorda Sylvie, que lhe anunciava a chegada do seu alfaiate, a quem se apresentou, segurando nas mãos os dois sacos de dinheiro, o que lhe agradou. Quando acabou de provar os fatos de noite, voltou a vestir a toilette da manhã, que o metamorfoseava completamente. «Estou melhor do que senhor de Trailles», pensou. «Por fim, pareço um cavalheiro!»

- Senhor - disse o pai Goriot entrando no seu quarto -, perguntou-me se eu sabia que casas frequentava a senhora de Nucingen? -Sim!

- Pois bem, ela vai na próxima segunda-feira ao baile do marechal de Carigliano. Se pudesse lá estar, dir-me-ia se as minhas duas filhas se divertiram, como estarão vestidas, enfim tudo.

- Como soube disso, meu bom pai Goriot? - disse Eugène, fazendo-o sentar à lareira.

- A criada de quarto dela disse-me. Sei tudo o que elas fazem através da Thérêse e da Constance - retomou, feliz. O velhote assemelhava-se a um amante ainda jovem para se contentar com um estratagema que lhe permite comunicar com a amante sem que ela desconfie. - Irá vê-las! - disse, exprimindo com ingenuidade uma inveja dolorosa.

- Não sei - respondeu Eugène. - Vou a casa da senhora de Beauséant pedir se ela me pode apresentar ao marechal.

Eugène pensava com uma espécie de alegria interior em mostrar-se na casa da viscondessa vestido como andaria de agora em diante. O que os moralistas chamam os abismos do coração humano são unicamente os pensamentos ilusórios, os involuntários movimentos do interesse pessoal.





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