Capítulo 1: O PAI GORIOT
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Somos tão jovens, tão ingénuas, quando começamos a vida conjugal! A palavra com a qual precisava de pedir dinheiro ao meu marido rasgava-me a boca, nunca ousava, comia o dinheiro das minhas economias e o que me dava meu pobre pai, depois contraí dívidas. O casamento é para mim a mais horrível das decepções, nem posso falar-lhe disso: que vos baste saber que me atiraria pela janela se tivesse de viver com o senhor de Nucingen sem ser em apartamentos separados. Quando tive de lhe comunicar as minhas dívidas de jovem mulher, jóias, fantasias (meu pobre pai tinha-nos habituado a ter de tudo), sofri um martírio, mas por fim tive a coragem de lhe dizer. Não tinha eu uma fortuna pessoal? Nucingen exaltou-se, disse que eu o arruinaria, horrores! Queria enfiar-me num buraco bem fundo no chão. Como tinha aceite o meu dote, pagou-as, mas estipulando a partir de então para as minhas despesas pessoais uma pensão à qual me resignei, para ter paz. Desde aí quis responder ao amor próprio de alguém que conhece - disse ela. - Se fui enganada por ele, não podia deixar de reconhecer a nobreza do seu carácter. Mas enfim deixou-me de forma indigna! Ninguém deveria nunca abandonar uma mulher a quem se lançou, num dia de desespero, um monte de ouro! Deve-se sempre amá-la! O senhor, bela alma de 21 anos, jovem e puro, perguntar-me-ia como uma mulher pode aceitar ouro de um homem? Meu Deus! Não será natural tudo dividir com o ser a quem devemos a nossa felicidade? Quando tudo se deu, quem poderia preocupar-se com uma parcela desse todo? O dinheiro só começa a ser algo quando o sentimento deixa de existir. Não estamos nós ligados para a vida? Qual de nós prevê uma separação quando se julga bem amado? Vocês juram-nos um amor eterno, como então ter interesses distintos? Não sabe o que sofri hoje, quando Nucingen recusou positivamente dar-me 6000 francos, ele que todos os meses os dá à amante, uma rapariga da ópera! Queria matar-me.
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