O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 145 / 279

As mais loucas ideias passavam-me pela cabeça. Houve momentos em que invejava a sorte de uma criada, da minha criada de quarto. Ir ter com meu pai, loucura! Anastasie e eu já o depenámos, meu pobre pai ter-se-ia vendido se pudesse valer 6000 francos. Teria ido preocupá-lo em vão. Salvou-me da vergonha e da morte, estava ébria de dor. Ah! Senhor, devia-lhe esta explicação: tive uma falta de bom senso louco consigo. Quando me deixou, e que vos perdi de vista, queria fugir a pé... para onde? Não sei. Eis a vida de metade das mulheres de Paris: um luxo exterior, preocupações cruéis na alma. Conheço pobres criaturas que ainda são mais infelizes do que eu. Há no entanto mulheres que são obrigadas a mandar fazer falsas contas pelos fornecedores. Outras são obrigadas a roubar os maridos: uns pensam que as caxemiras de 100 luíses se vendem por 500 francos, outros que uma caxemira de 5 francos vale 100 luíses, Encontram-se pobres mulheres que fazem jejuar os filhos, respigam para ter um vestido. Eu sou pura dentro desses enganos odiosos. Eis a minha última angústia. Se algumas mulheres se vendem aos maridos para serem governadas, eu pelo menos sou livre! Poderia ser coberta de ouro pelo Nucingen, e prefiro chorar com a cabeça encostada no coração de um homem que eu possa estimar. Ah! Esta noite o senhor de Marsay não terá o direito de me olhar como uma mulher que pagou. - Pôs a cara entre as mãos, para não mostrar as lágrimas a Eugène, que lha destapou para a contemplar, estava sublime. - Misturar o dinheiro com os sentimentos não é horrível? Não poderá amar-me - disse ela.

Esta mistura de bons sentimentos, que tornam as mulheres tão grandes e os erros que a constituição actual da sociedade as força a cometer, transtornou Eugène, que dizia palavras doces e de consolo admirando esta bela mulher, tão ingenuamente imprudente neste seu grito de dor.





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