O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 165 / 279

- Mas, senhor, o Governo não os põe ali para serem um modelo de todas as virtudes.

- Certo. No entanto, senhor, permiti...

- Mas deixe lá falar o senhor, meu querido - disse a menina Michonneau.

- Está a compreender, menina Michonneau - continuou Gondureau. - O Governo pode ter um grande interesse em pôr a mão num saque ilícito, que se avalia ser de um montante elevado. A Morte-em-Pé ensaca valores consideráveis escondendo não só as somas possuídas por alguns dos camaradas, mas ainda as que provêm da sociedade dos dez mil...

- Dez mil ladrões! - gritou Poiret, assustado.

- Não, a sociedade dos dez mil é uma associação de ladrões de alta estirpe, pessoas que trabalham em grande e não entram numa história onde não haja pelo menos 10 000 francos a ganhar. Esta sociedade compõe-se de tudo o que há de mais distinto entre os nossos homens que vão a julgamento. Conhecem o código e nunca temem a pena de morte quando são apanhados, Collin é o homem de confiança deles, o conselheiro. Com a ajuda dos imensos recursos que tem, este homem soube criar uma polícia própria, relações bem alargadas que envolve de um mistério impenetrável. Apesar de, desde há um ano para cá, o termos rodeado de espiões, ainda não conseguimos descobrir o jogo dele. O dinheiro e o talento que tem servem então constantemente para saldar o vício, servir de fundo para o crime e manter de pé uma armada de maus sujeitos que estão num perpétuo estado de guerra com a sociedade. Apanhar o Morte-em-Pé e apoderar-se da sua banca seria cortar o mal pela raiz. Desta forma, esta expedição tornou-se um assunto do Estado e de alta política, susceptível de honrar os que irão cooperar para o seu êxito. O senhor, mesmo, poderia ser de novo empregado na administração, tornar-se secretário de um comissário de polícia, funções essas que lhe permitiriam receber a sua reforma.





Os capítulos deste livro