Rastignac ouvia com um ar estúpido e nada podia responder. Nesse momento o pai Goriot, Bianchon e outros pensionistas chegavam.
- Está como queria - disse-lhe Vautrin. - Você sabe o que faz. Bem, minha pequena águia! Governará os homens; é forte, decidido, viril; tem toda a minha estima.
Quis pegar-lhe na mão. Rastignac retirou prontamente a sua e caiu numa cadeira empalidecendo; pensava estar a ver uma poça de sangue na frente.
- Ah! Ainda temos pequenas réstias de virtude - disse Vautrin em voz baixa. - O belo sogro tem 3 milhões, conheço a sua fortuna. O dote irá deixá-lo branco como um vestido de noiva, e até você acreditará nisso.
Rastignac não hesitou mais. Decidiu ir avisar, durante o serão, os senhores Taillefer pai e filho. Nesse momento, Vautrin tendo-o deixado, o pai Goriot disse-lhe ao ouvido:
- Está triste meu filho! Vou alegrá-lo eu. Venha!
E o velho fabricante de aletria acendeu o seu rolo de pavio a uma das lâmpadas. Eugène seguiu-o todo emocionado pela curiosidade.
- Entremos no seu quarto - disse o velhote, que tinha pedido a chave do estudante a Sylvie. - Pensou esta manhã que ela não o amava, não é! - continuou. - Ela pô-lo fora à força e você foi-se embora zangado, desesperado. Criancinhas! Ela estava à minha espera. Está a perceber? Devíamos ir acabar de arranjar uma jóia de apartamento no qual você irá morar dentro de três dias. Não me traia. Ela quer fazer-lhe uma surpresa, mas não quero esconder-lhe durante mais tempo o segredo. Fica na Rua de Artois, a dois passos da Rua de Saint Lazare. Estará aí como um príncipe. Arranjámos móveis como se estivéssemos a comprá-los para uma noiva. Fizemos bastantes coisas de há um mês para cá, não dizendo nada. O meu advogado já está a trabalhar, a minha filha terá os seus 36 000 francos por ano, os juros do seu dote, e vou exigir o investimento dos seus 8000 francos em lugares seguros.
