O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 172 / 279

Eugène estava mudo e passeava, de braços cruzados de um lado para o outro, no seu pobre quarto todo desarrumado. O pai Goriot apanhou um momento em, que o estudante lhe virava as costas e colocou na chaminé uma caixa de marroquino vermelho, na qual estava bordado a ouro o brasão de Rastignac.

- Meu querido filho - dizia o pobre velhote -, enfiei-me nisto até ao pescoço. Mas, veja bem, tinha dentro de mim algum egoísmo, tenho todo o interesse em que mude de bairro. Não me recusará, pois não! Se lhe peço algo?

- Que deseja?

- Por cima do seu apartamento, no 5.º andar, há um quarto independente, poderei lá ficar, não é verdade? Estou a ficar velho, estou demasiado longe das minhas filhas. Não o incomodarei. Só estarei ali. Irá falar-me delas todas as noites. Não o contraria, verdade? Quando entrar em casa, se estiver deitado, irei ouvi-lo, pensarei: Acabou de ver a minha pequena Delphine. Levou-a ao baile, ela é feliz com ele. Se estivesse doente, acalmaria o meu coração só de o ouvir ir e vir de um lado para outro. Haverá tanto da minha filha em si! Só terei de dar um passo para estar nos Champs -Elysées, onde elas passam todos os dias, irei poder vê-las sempre, enquanto agora por vezes chego tarde demais. E depois ela virá a sua casa talvez! Irei ouvi-la, vê-la no seu robe de manhã, trotando, indo levemente como uma pequena gata. Ela voltou a ser, desde há um mês, o que era, jovem rapariga, alegre, bonita. A alma dela está em convalescença, deve-lhe a si essa felicidade. Oh! Faria por si o impossível. Dizia-me há pouco quando voltávamos: «Papa, como sou feliz!» Quando elas me chamam cerimoniosamente de Meu pai, gelam-me, mas quando me chamam papá, parece-me estar a vê-las ainda pequenas, devolvem-me todas as minhas lembranças.





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