O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 191 / 279

- Regularmente? - disse Poiret, espantado.

- Está bem.

- Acha? - Perguntou Poiret.

- Sim! Parece estar a dormir. Sylvie foi buscar um médico. Veja, menina Michonneau, está a cheirar o éter. Ora! É um espasmo. O pulso está bom. É forte como um touro. Veja lá, menina, que penugem tem no estômago, viverá 100 anos, este homem! A peruca dele no entanto segura-se bem. Olha, está colada, tem cabelos falsos, visto que ele é ruivo. Diz-se que são todos bons ou maus, os ruivos! Ele seria bom então?

- Bom para a forca - disse Poiret.

- Quer dizer para pendurar ao pescoço de uma bela rapariga - gritou vivamente a menina Michonneau. - Ide-vos embora, senhor Poiret. Isto é tarefa nossa tratar a vocês, homens, quando estão doentes. Além disso, para aquilo que serve, bem pode ir passear - acrescentou. A senhora Vauquer e eu guardaremos bem este querido senhor Vautrin.

Poiret saiu devagar e sem uma palavra, como um cão a quem o dono dá um pontapé. Rastignac tinha saído para andar um pouco, para apanhar ar, abafava. Este crime cometido à hora certa, ele bem tinha querido evitá-lo na véspera. Que tinha acontecido? Que devia fazer? Tremia só de pensar que era cúmplice. O sangue frio de Vautrin ainda o assustava.

«Se no entanto Vautrin morresse sem falar?», pensava Rastignac.

Ia por entre as alamedas do Luxemburgo, como se fosse perseguido por um bando de cães, e parecia-lhe ouvir os latidos.

- Eia! Olha - gritou-lhe Bianchon -, leste Le Pilote?

Le Pilote era uma folha radical dirigida pelo senhor Tissot e que dava para a província, algumas horas após os jornais da manhã, uma edição onde estavam as notícias do dia, que tinha então, nos departamentos, vinte e quatro horas de avanço sobre os outros jornais.





Os capítulos deste livro