- Meu querido senhor Eugène, vai pedir dinheiro emprestado aos judeus, não é verdade?
- Não tenho outro remédio - disse este.
- Bom, era o que queria ouvir - continuou o velhote, sacando de uma velha carteira em couro toda usada. - Tornei-me judeu, já paguei todas as facturas, aqui estão. Não deve um tostão por tudo o que aqui está. Não é muito dinheiro, por volta de 500 000 francos. Eu empresto-vos esse dinheiro! Não irá dizer-me que não, não sou uma mulher. Apenas me assinará um papel com o montante em dívida que me devolverá mais tarde.
Algumas lágrimas caíram ao mesmo tempo dos olhos de Eugène e de Delphine, que se olharam surpreendidos. Rastignac estendeu a mão ao velhote e apertou-a.
- Ora essa! Então, não são vocês meus filhos? - disse Goriot.
- Mas, meu pobre pai - disse a senhora de Nucingen -, como fez isso?
- Ah! Aqui estamos nós - respondeu. - Quando me decidi a colocá-lo junto de ti, quando te vi a comprar coisas como se fosse para uma noiva, pensei: «Vai passar dificuldades'» O advogado pensa que o processo contra o teu marido, para te devolver a tua fortuna, dure mais de seis meses. Bom. Vendi as minhas 350 libras de títulos, coloquei, com 15000 francos, 1200 francos de rendas vitalícias bem hipotecadas e paguei os vossos fornecedores com o resto do capital, meus filhos. Eu tenho lá em cima um quarto de 50 moedas por ano, posso viver como um príncipe com 40 moedas por dia e ainda terei troco. Não gasto nada, quase não preciso de roupa. Já há 15 dias que sorrio para dentro, pensando: «Como vão ser felizes!» E, então, não são felizes?
- Oh! Papá, papá! - disse a senhora de Nucingen, atirando-se nos braços do pai que a recebeu sobre os joelhos. Cobriu-o de beijos, acariciou-lhe as faces com os seus cabelos loiros e deitou lágrimas sobre essa velha cara resplandecente, brilhante.