- O que é que ela tem? - perguntou Eugène a Sylvie.
- Enfim, parece que toda a gente parte por causa dos acontecimentos - virou-lhe a cara. - Vamos, estou a ouvi-la chorar. Vai fazer-lhe bem choramingar. É a primeira vez que esvazia os olhos desde que trabalho para ela.
No dia seguinte, a senhora Vauquer tinha-se, segundo uma sua expressão, conformado. Se pareceu afligida como uma mulher que tinha perdido todos os pensionistas e cuja vida estava transtornada, tinha a cabeça no lugar e mostrou o que era a dor verdadeira, uma dor profunda, a dor causada pelo interesse enxovalhado, pelos hábitos rompidos. Sem dúvida que o olhar que lança um amante sobre os lugares habitados pela amante, ao deixá-los, não é mais triste do que foi o da senhora Vauquer perante a mesa vazia. Eugène consolou-a dizendo-lhe que Bianchon, que acabava o internato dentro de alguns dias, viria provavelmente ocupar o lugar dele, que o empregado do Museu de História Natural tinha muitas vezes manifestado o desejo de ter o apartamento da senhora Couture, e que em poucos dias voltaria a ter a casa cheia.
- Deus vos ouça, meu querido senhor! Mas a desgraça está cá. Dentro de dez dias, a morte baterá neste lugar, vai ver - disse ela, deitando um olhar lúgubre à sala de jantar. - Quem virá ela buscar?
- Sabe bem mudar de lugar - disse em voz baixa Eugène ao pai Goriot.
- Senhora - disse Sylvie, acorrendo, desorientada -, há três dias que não vejo o Mistigris.
- Ah! Ora, se o meu gato está morto, se nos deixou, eu...
A pobre viúva não acabou, juntou as mãos e deixou-se cair de costas no cadeirão arrasada por este terrível prognóstico.