O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 215 / 279

Por volta do meio-dia, hora a que o correio chegava ao bairro do Panteão, Eugène recebeu uma carta elegantemente selada com o brasão dos Beauséant. Continha um convite dirigido ao senhor e à senhora de Nucingen para o grande baile anunciado já há um mês e que devia ter lugar na casa da viscondessa. Com este convite vinha um bilhete para Eugène:

Pensei, senhor, que se encarregaria com prazer de ser o intérprete dos meus sentimentos junto da senhora de Nucingen, envio-lhe o convite que me pediu e ficarei encantada de travar conhecimento com a irmã da senhora de Restaud. Trazei-me então essa bela mulher e fozei de forma a que ela não prenda demasiado todo o seu afecto, pois deve-me também muito em troca do que tenho por si.
Viscondessa de Beauséant.

«Mas», pensou Eugène, voltando a ler esse bilhete «a senhora de Beauséant diz-me de forma bastante clara que não deseja a presença do barão de Nucingen.» Foi rapidamente a casa de Delphine, feliz por lhe dar uma alegria da qual receberia sem dúvida boa recompensa. A senhora de Nucingen estava no banho. Rastignac esperou na salinha privada, entregue às impaciências naturais de um jovem ardente e com pressa de possuir a amante, objecto de dois anos de desejo. São emoções que não se encontram duas vezes na vida dos jovens. A primeira mulher realmente mulher a quem se prende um homem, ou seja aquela que se apresenta aos olhos dele nos esplendores dos acompanhamentos próprios da sociedade parisiense, essa nunca tem rival. O amor de Paris não se parece em nada aos outros amores. Nem os homens nem as mulheres desconhecem as aparências enaltecidas de lugares comuns que cada um expõe por decência sobre os seus afectos ditos desinteressados. Nesse país, uma mulher não deve somente satisfazer o coração e os sentidos, sabe perfeitamente que tem obrigações maiores a desempenhar para com as mil vaidades que compõem a vida.





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