O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 218 / 279

Obtido por si, não será mais do que um triunfo do amor próprio? Ninguém me-quis apresentar neste mundo. Achar-rne-á, talvez, neste momento, pequena, frívola, leviana como uma parisiense, mas pensai, meu amigo, que estou pronta a tudo lhe sacrificar e que, se desejo mais do que nunca ir ao faubourg Saint-Germain, é porque você lá está.

- Não acha - disse Eugène - que a senhora de Beauséant parece dizer-nos que não conta ver o barão de Nucingen no baile dela?

- Claro - disse a baronesa, entregando a carta a Eugène. - Essas mulheres têm o génio da impertinência. Mas não interessa, irei. A minha irmã deve lá estar, sei que está a preparar uma roupa deliciosa. Eugène - continuou em voz baixa -, ela vai para esclarecer difamações horrorosas. Não sabe os comentários que correm a respeito dela? Nucingen veio dizer-me esta manhã que se falava nisso ontem no círculo (local de encontro dos homens de Paris) sem falsos pudores. Como é frágil, meu Deus, a honra das mulheres e das famílias! Senti-me atacada, ferida pela própria irmã. Segundo algumas pessoas, o senhor de Trailles teria subscrito letras de câmbio que subiriam a 100000 francos, quase todas já deviam ter sido pagas e é perseguido por isso. Nesse extremo, a minha irmã teria vendido os diamantes a um judeu, esses belos diamantes que lhe viu, e que vêm da senhora de Restaud, mãe. Enfim, desde há dois dias, só se fala disso. Percebo então que Anastasie esteja a mandar fazer um vestido deslumbrante e queira atrair sobre ela todos os olhares na casa da senhora de Beauséant, aparecendo lá em todo o seu esplendor e com os diamantes. Mas não quero ficar abaixo dela. Procurou sempre rebaixar-me, nunca foi boa para mim, que lhe fazia tantos favores, que tinha sempre dinheiro para ela quando precisava.





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