Até então ainda não tinha completamente limpo o encantamento das frescas e suaves ideias que envolvem como se tratasse de uma ramagem a juventude da~ crianças educadas na província. Tinha hesitado continuamente em passar a fronteira parisiense. Apesar das suas curiosidades ardentes, tinha sempre conservado alguns pensamentos antigos da vida feliz que leva o verdadeiro cavalheiro no seu castelo. No entanto, estes últimos escrúpulos tinham desaparecido na véspera, quando se tinha visto no seu apartamento. Gozando das vantagens materiais da fortuna, corno gozava há muito das vantagens morais que dá o nascimento, tinha despido a pele de homem de província e instalara-se devagar numa posição de onde descobria um belo futuro. Assim, esperando por Delphine, molemente sentado nessa bela salinha que era um pouco dele também, via-se tão longe de Rastignac que tinha chegado o ano passado a Paris, que, mirando-o por um efeito de óptica moral, perguntava-se se, nesse momento, era parecido consigo mesmo.
- A senhora está no quarto - veio dizer-lhe Thérèse, que o fez estremecer.
Encontrou Delphine estendida no sofá, junto da lareira, fresca, repousada. Ao vê-la assim exposta sobre ondas de musselina, era impossível não a comparar a essas belas plantas da Índia cujo fruto vem na flor.
- Ora bem! Aqui estamos nós - disse ela com emoção.
- Adivinhe o que lhe trago - disse Eugène, sentando-se junto dela e pegando-lhe no braço para lhe beijar a mão.
A senhora de Nucingen fez um movimento de alegria ao ler o convite.
Virou os olhos molhados para Eugène e deitou-lhe os braços ao pescoço para o atrair junto dela num delírio de satisfação vaidosa.
- E é a si (tu - disse-lhe ao ouvido - mas Thérèse está no meu gabinete de banho, sejamos prudentes!), a si que devo esta alegria? Sim, ouso chamar isto alegria.
