O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 230 / 279

Só me dão a conhecer as vossas lágrimas. Pois bem, sim! Vocês amam-me, bem o vejo. Vinde, vinde, lamentar-vos aqui! O meu coração é grande, pode tudo receber. Sim, por muito que o despedacem, os restos ainda serão corações de pais. Quereria tomar as vossas tristezas, sofrer no vosso lugar. Ah! Quando eram pequenas, eram tão felizes...

- Só tivemos esse tempo de felicidade - disse Delphine. - Onde estão os grandes momentos onde saltávamos do alto das sacas do sótão.

- Meu pai! Não é tudo - disse Anastasie ao ouvido de Goriot que deu um salto. - Os diamantes não foram vendidos por 100000 francos. Maxime é perseguido. Já só temos 12000 francos para pagar. Prometeu-me portar-se bem, não voltar a jogar. Só me resta no mundo o amor dele e paguei-o demasiado caro para não vir a morrer se ele me escapasse. Sacrifiquei-lhe fortuna, honra, repouso, filhos. Oh! Faça que pelo menos o Maxime seja livre, honrado, que possa continuar no mundo onde saberá arranjar uma posição. Agora não me deve só a felicidade, temos filhos que ficariam sem fortuna. Tudo estará perdido se é preso por dívidas.

- Não os tenho Nasie. Nada, mais nada, mais nada! É o fim do mundo. Oh! O mundo vai desabar, é certo. Ide-vos, salvai-vos antes que aconteça! Ah! Ainda tenho as minhas fivelas de prata, seis talheres, os primeiros que tive na vida. Enfim, já só tenho 1200 francos de rendimento vitalício...

- Que fez então dos seus rendimentos perpétuos?

- Vendi-os, guardando essa pequena quantia de rendimentos para as minhas necessidades. Precisava de 12000 francos para arranjar um apartamento para Fifine.

- Para ti, Delphine? - perguntou a senhora de Restaud à irmã.

- O que é que interessa! - retomou o pai Goriot. - Os 12000 francos estão empatados.

- Imagino - disse a condessa.





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