Não matarei o senhor de Trailles, poderia falhar e para me desfazer dele doutro modo poderia dar de caras com a justiça humana. Matá-lo nos seus braços seria desonrar as crianças. Mas para não ver cair em desgraça nem os seus filhos, nem o pai deles, nem eu, imponho-lhe duas condições. Respondei: um dos filhos é meu?
Disse que sim.
- Qual? - perguntou.
- Ernesto, o mais velho.
- Bem - disse -, agora, jurai obedecer-me num só ponto.
Jurei.
- Irá assinar a venda dos seus bens quando lho pedir.
- Não assines isso - gritou o pai Goriot. - Nunca assines isso. Ah! Ah! Senhor de Restaud, o senhor não sabe o que é tornar uma mulher feliz, ela vai procurar a felicidade onde ela está e pune-a pela sua estúpida impotência?... Estou aqui, eu. Alto lá! Irá encontrar-me no seu caminho. Nasie, fica descansada. Ah, ele quer guardar o herdeiro dele! Bom, bom. Irei tirar-lhe o filho, que, diabo, é meu neto. Posso vê-lo, esse pirralho? Ponho-o na minha aldeia, cuidarei dele, fica tranquila. Farei capitular esse monstro, dizendo-lhe: A nós dois agora! Se queres ter o teu filho, dá à minha filha os bens dela, e deixa-a conduzir-se como bem lhe aprouver.
- Meu pai.
- Sim, teu pai! Ah! Sou um pai verdadeiro. Que esse senhor engraçado não maltrate as minhas filhas. Com mil raios! Não sei o que tenho nas veias, tenho o sangue de um tigre, quereria devorar esses dois homens. Ó minhas filhas! Eis então a vossa vida? Mas é a minha morte. Que será de vocês quando eu já não existir? Os pais deveriam viver tanto quanto os filhos. Meu Deus, como o teu mundo está mal composto! E, no entanto, tens um filho, ao que se diz. Deverias impedir-nos de sofrer pelas nossas crianças. Meus queridos anjos, o quê! É só devido às vossas dores que devo à vossa presença.