Eugène observou que era necessário transportar para lá rapidamente o velhote, se se encontrava doente, e deixou Delphine para acorrer à Casa Vauquer. Nem o pai Goriot nem Bianchon estavam à mesa.
- Ah, ainda bem que é você! - disse-lhe o pintor. - O pai Goriot está nas últimas. Bianchon está lá em cima junto dele. O velhote viu uma das filhas, a condessa de Restaurama, depois quis sair e a doença dele piorou. A sociedade vai ser privada de um dos seus belos ornamentos.
Rastignac atirou-se para a escada.
- Senhor Eugène!
- Senhor Eugène - disse-lhe a viúva -, o senhor Goriot e o senhor deviam sair no dia 15 de Fevereiro. Há já três dias que o dia 15 passou, estamos a 18, terá de me pagar um mês para si e outro para ele. Se me quer afiançar o pai Goriot, a sua palavra bastará.
- Porquê? Não tem confiança?
- Confiança! Se o homem perdesse a cabeça por completo e morresse, as filhas não me dariam um cêntimo, e tudo o que tem no quarto não vale 10 francos. Levou esta manhã os últimos talheres que tinha, não sei porquê. Vestiu-se a rigor. Deus me perdoe, até parece que estava pintado, mais novo.
- Responsabilizo-me por tudo - disse Eugène com um arrepio de horror e apreendendo uma catástrofe.
Subiu ao quarto do pai Goriot. O velhote jazia na cama e Bianchon estava junto dele.
- Bom dia, pai - disse-lhe Eugène.
O bom homem sorriu-lhe docemente e respondeu virando para ele os olhos já sem cores:
- Como está ela?
- Bem, e o senhor?
- Nada mal.
- Não o canses - disse Bianchon, arrastando Eugène para um canto do quarto.
- E então? - disse Rastignac.
- Só pode ser salvo por um milagre. A congestão serosa já começou, tem os cataplasmas, felizmente está a senti-los, estão a fazer efeito.
- Podemos transportá-lo?
- Impossível.