O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 243 / 279

Enfim, não teria gasto 1000 francos no boticário? Prefiro dá-los ao meu cura-tudo, à minha Nasie. Pelo menos, irei consolá-la na sua miséria. Isso paga o mal de ter adquirido rendimentos vitalícios. Ela está no fundo do poço e eu não sou suficientemente forte para a tirar de lá. Oh! Vou voltar ao comércio. Irei a Odessa para comprar grão. O milho vale aí três vez menos do que custa o nosso. Se a introdução dos cereais é proibida por natureza, as boas pessoas que fazem as leis não pensaram em proibir as fabricações onde o milho é o elemento essencial. Hé, hé!... Pensei nisso, eu, esta manhã! Há bons negócios a fazer nos amidos.

«Está doido», pensou Eugène, olhando para o velhote.

- Vamos, ficai quieto, não faleis...

Eugène desceu para jantar quando Bianchon subiu. Depois ambos passaram a noite a velar o doente à vez, ocupando-se, um a ler livros de medicina, o outro a escrever à mãe e às irmãs. No dia seguinte, os sintomas que se declararam no doente foram, segundo Bianchon, de um parecer favorável; mas exigiram cuidados contínuos de que só os estudantes eram capazes, e com o relato dos quais é impossível não comprometer a pudibunda fraseologia da época. As sanguessugas postas no corpo empobrecido do homem foram acompanhadas de cataplasmas, banhos de pés, manobras médicas para as quais era preciso a força e a dedicação dos jovens. A senhora de Restaud não veio, enviou um moço-de-recados para ir buscar a soma.

- Pensava que teria vindo apesar de tudo. Mas não faz mal, teria ficado preocupada - disse o pai, parecendo contente com essa circunstância.

Às sete horas do noite, Thérèse veio trazer um bilhete de Delphine.

Que está a fazer, meu amigo? Apenas no começo de ser amada, já serei negligenciada? Mostrou-me, nessas confidências ditas de coração aberto, uma alma demasiado bela para não ser daqueles que se mantêm sempre fiéis, mesmo vendo o quanto os sentimentos têm variantes.





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