O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 251 / 279

Se tinha revisto Vautrin no coronel italiano, reviu então, debaixo dos diamantes das duas irmãs, a tarimba na qual jazia o pai Goriot. A sua atitude melancólica enganou a viscondessa, esta largou-lhe o braço.

- Vá! Não quero ser um peso para si - disse.

Eugène foi depressa reclamado por Delphine, feliz com o efeito que produzia, e ciumenta por querer pôr aos pés do estudante as homenagens que recebia nesse mundo, onde esperava ser adoptada.

- Como acha a Nasie? - perguntou-lhe.

- Ela - disse Rastignac - gozou até à morte do pai.

Por volta das 4 horas da manhã, a multidão dos salões começava à dispersar-se. Depressa a música não se fez ouvir mais. A duquesa de Langeais e Rastignac ficaram sozinhos no grande salão. A viscondessa, pensando encontrar só o estudante, voltou aí após ter feito os seus adeus ao senhor de Beauséant, que ia deitar-se repetindo-lhe:

- Está a agir mal, minha querida, ir isolar-se na sua idade! Ficai entre nós. Ao ver a duquesa, a senhora de Beauséant não pôde reter uma exclamação.

- Estou a perceber, Claire - disse a senhora de Langeais. - Você parte para não mais voltar, mas não partirá sem me ter ouvido primeiro e sem que nos tenhamos esclarecido. - Pegou a amiga pelo braço, levou-a para o salão vizinho e aí, olhando-a com as lágrimas nos olhos, apertou-a nos braços e beijou-a nas faces. - Não quero deixá-la friamente, minha querida, seria um remorso demasiado pesado. Pode contar comigo com toda a lealdade. Foi grande esta noite, senti-me digna de si e quero prová-lo. Agia mal para consigo, nem sempre fui boa, perdoai-me, minha querida, desacredito tudo aquilo que a possa ter magoado, quereria reaver as minhas palavras. Uma mesma dor reuniu as nossas almas e não sei qual de nós será à mais infeliz.





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