Gostaria de lhe dar algo como prova da minha amizade. Pensarei muito em si, que me pareceu ser bom e nobre, jovem e cândido no meio desse mundo onde essas qualidades são tão raras. Desejaria que pensasse algumas vezes em mim. Tomai - disse, deitando uma vista de olhos à sua volta -, eis a caixa onde guardava as luvas. Todas as vezes que lá fui buscar um par, antes de ir a um baile ou espectáculo, sentia-me bela porque era feliz, e só lá tocava para deixar um pensamento bonito: há muito de mim aí dentro, há toda uma senhora de Beauséant que já não existe, aceitai-o, irei providenciar para que o entregue na sua casa, na Rua d'Artois. A senhora de Nucingen está muito bela esta noite, amai-a bastante. Se não nos voltarmos a ver, meu amigo, esteja certo de que farei votos para si, que foi bom para mim. Desçamos, não quero deixar pensar que choro. Tenho a eternidade na minha frente, estarei sozinha e ninguém me pedirá contas das minhas lágrimas. Mais um olhar a este quarto. - Parou. Depois, após ter escondido os olhos com a mão, limpou-os, lavou-os com água fresca e pegou no braço do estudante. - Vamos! - disse.
Rastignac ainda não tinha sentido uma emoção tão violenta quanto foi o contacto desta dor contida de forma tão nobre. Ao voltar a entrar no baile, Eugène percorreu-o com a senhora de Beauséant, última e delicada atenção desta mulher graciosa.
Depressa avistou as duas irmãs, a senhora de Restaud e a senhora de Nucingen. A condessa estava magnífica com todos os seus diamantes expostos, que, para ela, queimavam sem dúvida; ela usava-os pela última vez. Por mais poderosos que fossem o seu orgulho e amor, não suportava bem os olhares do marido. Este espectáculo não era de natureza a tornar os pensamentos de Rastignac menos tristes.