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Capítulo 1: O PAI GORIOT

Página 261
Pois bem! Os pais são tão estúpidos! Afiava-as tanto que voltei lá como o jogador volta a jogar. As minhas filhas eram o meu vício, eram as minhas amantes, enfim tudo! Tinham ambas necessidade de alguma coisa, roupas; as criadas de quarto diziam-mo e eu dava-lhes para ser bem recebido! Mas deram-me também algumas pequenas lições sobre a maneira de me comportar na sociedade. Oh! Não esperaram pelo dia seguinte para começarem a agir. Começavam a ter vergonha de mim. Eis no que dá de bem educar os filhos. Na minha idade não podia, no entanto, voltar para a escola. (Sofro horrivelmente, meu Deus! Os médicos! Se me abrissem a cabeça, sofreria menos.) As minhas filhas, as minhas filhas, Anastasie, Delphine! Quero vê-las. Mandai-as buscar à força! A justiça está do meu lado, tudo está do meu lado, a natureza, o código civil. Protesto. A pátria morrerá se os pais são impedidos de agir. Isso é claro. A sociedade, o mundo, marcham sobre a paternidade, tudo desaba se os filhos não amam os pais. Oh! Vê-las, ouvi-las, não interessa o que dirão, desde que ouça a sua voz, isso acalmará as minhas dores, Delphine sobretudo. Mas, dizei-lhe, quando aqui estiverem, para não me olharem friamente como o fazem. Ah! Meu bom amigo, senhor Eugène, não sabe o que é encontrar o ouro do olhar transformado de repente em cinza metalizado. Desde o dia em que os olhos delas não voltaram a brilhar para mim, estive sempre no mais profundo inverno aqui; só tive então tristezas para devorar, e devorei-as! Vivi para ser humilhado, insultado. Amo-as tanto que engolia todas as afrontas através das quais elas me vendiam uma pobre pequena alegria vergonhosa. Um pai ter de esconder-se para ver as filhas! Dei-lhes a vida, elas hoje não me darão uma hora! Tenho sede, tenho fonte, o meu coração arde, não virão refrescar a minha agonia, pois morro, estou a senti-lo.

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Capa do livro O Pai Goriot
Páginas: 279
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Os capítulos deste livro:
O PAI GORIOT 1