O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 275 / 279

Há 60 mortes hoje, quer que nos lamentemos sobre as hecatombes parisienses? Que o pai Goriot tenha batido a bota, melhor para ele! Se o adoravam, ide guardá-lo e deixai-nos comer em paz, a nós.

- Oh, sim! - disse a viúva. - Ainda bem para ele que tenha morrido! Parece que o pobre homem tinha muitas tristezas nesta sua vida.

Foi esta a única oração fúnebre de um ser que, para Eugène, representava a paternidade. Os quinze pensionistas começaram a conversar como de hábito. Quando Eugène e Bianchon acabaram de comer, o barulho dos garfos e das colheres, os risos da conversa, as diversas expressões dessas figuras gulosas e indiferentes, a despreocupação delas, tudo os gelou de terror. Saíram para ir buscar um padre que velou e rezou durante a noite junto do morto. Tiveram de medir os últimos deveres a ter para com o velhote em função do pouco dinheiro de que podiam dispor. Por volta das 9 horas da noite, o corpo foi colocado sobre uma base de madeira, entre duas velas, num quarto vazio, e um padre veio sentar-se junto dele. Antes de ir deitar-se, Rastignac, tendo pedido informações ao eclesiástico sobre o preço do serviço a fazer e dos transportes, escreveu umas palavras ao barão de Nucingen e ao conde de Restaud pedindo-lhes para mandar os negociantes deles para poderem pagar todas as despesas do funeral. Mandou-lhes Christophe, depois deitou-se e adormeceu partido de cansaço. No dia seguinte, Bianchon e Rastignac foram obrigados a ir eles próprios declarar a morte, que foi constatada por volta do meio-dia. Duas horas depois nenhum dos genros tinha mandado dinheiro, ninguém se tinha apresentado em nome deles, e Rastignac tinha sido obrigado a pagar as despesas do padre. Sylvie tendo pedido 10 francos para amortalhar o velhote e cozê-lo na mortalha, Eugène e Bianchon calcularam que se os parentes do morto não queriam assumir nenhuma responsabilidade, teriam apenas dinheiro suficiente para pagar as despesas todas.





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