O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 30 / 279

- Bravo, pai Goriot!

Mas o velhote não ouviu as brincadeiras que a sua resposta suscitava, tinha mergulhado de novo num estado meditativo que os que o observavam superficialmente pensavam ser um entorpecimento senil devido à sua falta de inteligência. Se o tivessem conhecido melhor, talvez tivessem ficado bastante interessados pelo problema que apresentava a sua situação física e moral, mas nada era mais difícil. Apesar de ser fácil saber se Goriot tinha verdadeiramente sido um fabricante de aletria e qual era a sua fortuna, as pessoas mais velhas que começaram a alimentar uma certa curiosidade acerca dele, não saíam do bairro e viviam na pensão como ostras num rochedo. Quanto aos outros, o desencadear particular da vida parisiense fazia-lhes esquecer, ao sair da Rua Neuve-Sainte-Geneviêve, o pobre velhote de quem faziam pouco. Para esses espíritos estreitos, tal como para esses jovens despreocupados, a seca miséria do pai Goriot e a sua atitude estúpida eram incompatíveis com uma fortuna e qualquer tipo de capacidade. Quanto às mulheres que chamava de filhas, todos partilhavam da opinião da senhora Vauquer, que dizia, com a lógica severa que o hábito de tudo supor dá às velhas ocupadas a dar à língua nos serões.

- Se o pai Goriot tivesse filhas tão ricas quanto parecem sê-lo todas as damas que vieram vê-lo, não estaria na minha casa, no terceiro andar, a pagar quarenta e cinco francos por mês e não andaria por aí vestido como um pobre.

Nada podia desmentir estas deduções. Assim, por volta do final do mês de Novembro de 1819, época em rebentou este drama, todos na pensão tinham opiniões bem formadas sobre o pobre velhote. Nunca tinha tido nem filha nem mulher; o abuso dos prazeres fazia dele um desavergonhado, um molusco antropomórfico a classificar nos Casquettifères, dizia um empregado do Museu de História Natural, um dos clientes habituais.





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