Quando o seu espólio ficou gasto, comprou algodão a catorze vinténs o metro para substituir a sua bela roupa. Os diamantes, a tabaqueira em ouro, a corrente e as jóias desapareceram um por um. Tinha posto de lado o fato azul-claro, tudo o que tinha de mais opulento, para vestir, de Verão como de Inverno, uma sobrecasaca de tecido castanho grosseiro, um colete de pêlo de cabra e umas calcas cinzentas em lã. Tornou-se progressivamente magro; as coxas da perna ficaram flácidas; a sua figura, inchada pelo contentamento de uma felicidade burguesa, esvaziou-se desmesuradamente; a testa enrugou-se, o maxilar começou a ficar saliente. Durante o quarto ano do seu estabelecimento na Rua Neuve-Sainte-Geneviêve, já não era parecido com nada. O bom fabricante de aletria de 62 anos, o burguês gordo e grande, cheio de estupidez, cuja vestimenta galhofeira divertia os transeuntes, que tinha qualquer coisa de jovial no sorriso, parecia ser um septuagenário apatetado, vacilante, pálido. Os olhos de um azul tão vivo adoptaram cores embaciadas e cinzento-metalizadas, tinham empalidecido, já não estava constantemente a lacrimejar e os contornos vermelhos pareciam chorar sangue. A uns metia medo; a outros despertava piedade. Jovens estudantes de Medicina, que tinham notado o descair do lábio inferior e medido o cume do ângulo facial, declararam-no atingindo de cretinismo, após o terem durante muito tempo descomposto sem nada tirar dele. Uma noite, após jantar, a senhora Vau quer tendo-lhe dito com um tom de gozo:
- Então! As suas filhas já não vêm vê-lo?
Pondo em causa a sua paternidade, o pai Goriot deu um sobressalto como se a hospedeira o tivesse picado com ferros.
- Vêm algumas vezes•- respondeu comovido.
- Ah! ah! Ainda as vê algumas vezes! - gritaram os estudantes.
