O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 47 / 279

- Qual de nós não teve as suas pequenas paixões? (A jovem mulher baixou os olhos como uma religiosa que vê estátuas.) - Pois bem! - retomou. - Essa gente defende uma ideia e não a larga. Só têm sede de uma certa água bebida numa certa fome e muitas vezes estagnante; para dela beber, venderiam as mulheres, os filhos; venderiam a alma ao diabo. Para uns, essa fonte é o jogo, a bolsa, uma colecção de quadros ou de insectos, a música; para outros, é uma mulher que sabe levá-los. A esses, poderiam oferecer-lhes todas as mulheres da terra, nem ligariam, só querem aquela que satisfaz a sua paixão. Muitas vezes essa mulher não os ama nem um pouco, trata-os mal, vende-lhes bastante caro pedaços de satisfação; pois bem! Os meus farsolas não se cansam delas e seriam capazes de penhorar o último cobertor para lhes trazer um último vintém. O pai Goriot é uma dessas pessoas. A condessa explora-o porque ele é discreto, este é o belo mundo! O pobre homem só pensa nela. Tirando a sua paixão, vêem bem, é uma besta embrutecida. Falem-lhe dela e a sua face ilumina-se como um diamante. Não é um segredo difícil de adivinhar que este levou esta manhã cobre à fonte, e vi-o entrar no papa Gobseck, na Rua de Gres. Estejam atentos! Quando veio enviou a casa da condessa de Restaud esse imbecil do Christophe que nos mostrou a morada da carta onde estava uma letra de câmbio. É evidente que se a condessa ia também a casa do velho usureiro, era algo urgente. O pai Goriot financiou galantemente para ela. Não é preciso ser muito inteligente para perceber tudo nesta história. Isto prova-lhe, meu jovem estudante, que, enquanto a sua condessa ria, dançava, fazia as suas macacadas, balançava as flores de pessegueiro e dobrava o vestido estava bastante apertada, como se diz, pensando nas letras de câmbio recusadas, ou nas do amante.




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