O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 48 / 279

- Está a dar-me uma vontade furiosa de saber a verdade. Irei amanhã a casa da senhora de Restaud - gritou Eugène.

- Sim - disse Poiret -, tem de ir amanhã a casa da senhora de Restaud.

- Talvez lá encontre o bom velho Goriot, que terá ido receber o montante dos seus galanteios.

- Mas - disse Eugène com um ar de repúdio - este seu Paris é então um belo lamaçal.

- É um belo lamaçal- repetiu Vautrin. - Aqueles que lá se enlameiam de carro são pessoas honestas, os que lá se sujam a pé são uns intrujões. Tende a infelicidade de aí roubar qualquer coisa e será apontado na Praça do Palácio da Justiça como uma curiosidade. Roubai um milhão, será apontado nos salões como sendo uma virtude. E pagam trinta milhões à Polícia e à justiça para manter esta moral. Bonito!

- Como - gritou a senhora Vauquer - o pai Goriot teria derretido a sua prata dourada?

- Não tinha dois pombinhos na tampa? - disse Eugène.

- Isso mesmo.

- Era então muito agarrado a ela, chorou quando desfez a travessa e o prato. Vi-o por acaso - disse Eugène.

- Queria-lhe tanto como à própria vida -" respondeu a viúva.

- Vejam o velho, como está apaixonado - gritou Vautrin. - Essa mulher sabe como lhe virar a alma.

O estudante subiu ao quarto. Vautrin saiu. Alguns instantes mais tarde, a senhora Couture e Victorine subiram para um fiacre que Sylvie lhes tinha ido buscar. Poirot ofereceu o braço à menina Michonneau e ambos foram passear para o Jardin des Plantes durante duas boas horas dessa tarde.

- Enfim! Lá estão eles quase casados - disse a gorda Sylvie.

- Saem hoje juntos pela primeira vez. São os dois tão secos que, se chocam, farão faíscas como um isqueiro.

- Cuidado com o xaile da menina Michonneau - disse rindo a senhora Vauquer -, pegará fogo como uma acendalha.





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