O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 50 / 279

Aqui está a nossa visita. Pelo menos viu a filha. Não sei como pode renegá-la, parecem duas gotas de água.

Os pensionistas, internos e externos, chegaram uns atrás dos outros, cumprimentando-se mutuamente e dizendo essas banalidades que constituem, em algumas classes parisienses, a graça na qual a estupidez entra como principal elemento e cujo mérito consiste particularmente no gesto ou na pronúncia. Esta espécie de gíria varia continuamente. A brincadeira de que é o princípio nunca dura mais de um mês. Um acontecimento político, um processo no tribunal, uma canção da rua, as brincadeiras de um actor, tudo serve para entreter esse jogo do espírito que consiste sobretudo em pegar nas ideias e nas palavras como um disco e devolvê-las como se se estivesse a jogar raquetes. A recente invenção do Diorama, que levava a ilusão de óptica a um grau mais elevado do que nos Panaromas, tinha fomentado em alguns ateliers de pintura a brincadeira de falar em rama, um tipo de piada que um jovem pintor, cliente habitual da pensão Vauquer, lá tinha introduzido.

- Pois bem! Meu senhor Poiret - disse o empregado do Museu de História Natural-, como vai essa pequena sauderama? - Depois, sem esperar pela resposta - Minhas senhoras, estão com alguma tristeza disse à senhora Couture e a Victorine.

- Iremos nós jantare? - gritou Horácio Bianchon, um estudante de Medicina, amigo de Rastignac. - O meu pequeno estômago desceu usque ad talones.

- Está um grande friotorama! - disse Vautrin. - Mexa-se então, pai Goriot! Que coisa! O seu pé ocupa praticamente toda a entrada do fogão.

- Ilustre senhor Vautrin - disse Bianchon -, por que diz friotorama?

Está errado, diz-se friodorama.

- Não - disse o empregado do Museu de História Natural -, é friotorama, por regra: tenho frio aos pés.





Os capítulos deste livro