O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 51 / 279

- Ah! Ah!

- Eis sua excelência o marquês de Rastignac, doutor em Direito torcido - gritou Bíanchon, pegando em Eugène pelo pescoço e apertando-o quase até ao abafar. - Viva aos outros, viva!

A menina Michonneau entrou devagarinho, cumprimentou os convidados sem uma palavra e foi sentar-se junto das outras três mulheres. - Dá-me sempre arrepios, esta morcega velha - disse em voz baixa Bianchon a Vautrin, designando a menina Michonneau. - Eu que estudo o sistema de Gall acho que tem as corcundas de Judas.

- O senhor conheceu-o? - disse Vautrin.

- Quem não o encontrou! - respondeu Bianchon. - Palavra de honra, esta rapariga pálida faz-me lembrar essas minhocas compridas que acabam por roer as traves da madeira.

- Eis o que isso é, meu jovem - disse o quarentão, penteando as suíças.


E rosa, ela viveu o que vivem as rosas,
O espaço de uma manhã.

-/ Ah! Ah! Eis uma excelente soparama - disse Poiret ao ver Christophe que entrava exibindo respeitosamente a sopa.

- Perdoai-me, senhor - disse a senhora Vauquer -, é uma sopa de hortaliça.

Todos os jovens desataram numa gargalhada geral. - Bem metida, Poiret!

- Poirrrrrette entalado!

- Dois pontos para mamã Vauquer - disse Vautrin.

- Alguém reparou no nevoeiro esta manhã? - disse o empregado.

- Era - disse Bianchon -. um nevoeiro frenético e sem par, um nevoeiro lúgubre, melancólico, verde, crescente, um nevoeiro Goriot. - Goriorama - disse o pintor -, porque não se via nada.

- Eia, senhor lorde Gaôriotte, estamos a falar de si.

Sentado no fundo da mesa, perto da porta pela qual chegava a comida, o pai Goriot levantou a cabeça cheirando um pedaço de pão que tinha debaixo do guardanapo, devido a um velho hábito comercial que reapareCIa por vezes.





Os capítulos deste livro