- Pois bem! - gritou asperamente a senhora Vauquer com uma voz que dominou o ruído das colheres, dos pratos e das vozes. - Acha que o pão não está bom?
- Pelo contrário, senhora - respondeu este -, é feito com farinha de Etampes, de primeira qualidade.
- Como consegue ver isso? - perguntou Eugène.
- Pela cor, pelo sabor.
- Pelo sabor do nariz, visto estar a cheirá-lo - disse a senhora Vauquer. - Está a tomar-se tão económico que acabará por encontrar meio de alimentar-se cheirando apenas o ar da cozinha.
-Tirai então um curso de invenções - gritou o empregado -, faria bom dinheiro.
- Deixai lá isso, ele só fez isso para nos convencer de que foi fabricante de aletria - disse o pintor.
- O seu nariz é, então, uma extravagância - perguntou ainda o empregado do Museu de História Natural. - Extra quê? - perguntou Bianchon.
- Extragailha.
- Extraguna.
- Extralina.
- Extranicha.•
- Extranoncha.
- Extraneau.
- Extravac.
- Extranorama.
Estas oito respostas saíram de todos os lados da sala com a rapidez de uma mecha ateada e provocaram tanto o riso, visto que ainda por cima o pobre pai Goriot olhava os convidados com um ar estúpido, como um homem que tenta compreender uma língua estrangeira.
- Extra? - disse a Vautrin que estava sentado junto dele.
- Extra aos pés, meu velho! - disse Vautrin, dando-lhe uma palmada na cabeça que lhe enfiou o chapéu até aos olhos.
O pobre velho, surpreendido com este ataque brusco, ficou durante uns momentos imóvel. Christophe levou o prato do velhote, pensando que ele já tinha acabado a sopa, de tal forma que, quando Goriot, após ter composto o chapéu, pegou na colher, bateu na mesa. Todos os convivas desataram a rir.
. - O senhor - disse o velho -, é um engraçadinho bastante malvado e se ousa mais uma vez bater-me desta forma.