O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 56 / 279

Dirá à senhora condessa que esperei mais de meia hora.

Esse impertinente, que talvez tivesse o direito de o ser, cantarolou um qualquer garganteio italiano, dirigindo-se para a janela onde estava Eugène parado, tanto para ver a cara do estudante como para olhar para o pátio.

- Mas o senhor conde faria melhor se esperasse ainda um momento, a senhora acabou... - disse Maurício, voltando para a sala de espera.

Nesta altura, o pai Goriot saía perto da porta de serviço por uma pequena escada. O velhote tirou o guarda-chuva e preparou-se para abri-lo, sem reparar que a grande porta principal estava aberta para dar passagem a um homem novo com galões que conduzia um tilbury. O pai Goriot só teve tempo de se atirar para trás para não ser atropelado. O tafetá do guarda-chuva tinha assustado o cavalo, que fez um ligeiro salto para o lado, precipitando-se para a entrada. Esse homem virou a cara com um ar zangado, olhou para o pai Goriot e fez-lhe, antes de ele sair, um aceno que demonstrava a consideração forçada que se dá aos usureiros de que se necessita, ou esse respeito necessário exigido para com um homem desacreditado, mas de quem mais tarde se tem vergonha: O pai Goriot respondeu com um pequeno sinal amigável, cheio de boa vontade. Estes acontecimentos passaram-se com a rapidez de um raio. Demasiado atento para perceber que não estava só, Eugène ouviu de repente a voz da condessa.

- Ah! Maxime, ia embora - disse com um ar reprovador, onde se misturava um pouco de despeito.

A condessa não tinha tomado atenção à entrada do tilbury. Rastignac virou-se de repente e viu a condessa vestida elegantemente com um robe de caxemira branco, com laços cor-de-rosa, penteada um pouco à pressa, como todas as mulheres de Paris de manhã; cheirava bem, tinha provavelmente tomado um banho e a beleza dela, por assim dizer descontraída, parecia mais voluptuosa; os olhos estavam húmidos.





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