- Mais do que pensa - disse em voz baixa Eugène.
- Como? - disse ela de repente.
- Mas - retomou o estudante - acabei de ver sair de sua casa um senhor com quem vivo porta com porta na mesma pensão, o pai Goriot. - Ao ouvir este nome de pai, o conde, que atiçava o lume, deitou as pinças para o fogo, como se lhe tivessem queimado as mãos e levantou-se.
- Senhor, teria pelo menos podido dizer senhor Goriot! - gritou.
A condessa primeiro empalideceu ao ver a impaciência do marido, depois corou e ficou evidentemente envergonhada e respondeu com uma voz que quis tornar natural e com um ar de falso desprendimento:
- É impossível conhecer alguém de quem possamos gostar mais... - interrompeu-se, olhou para o piano, como se despertasse nela alguma fantasia, e disse:
- Gosta de música, senhor?
- Muito - respondeu Eugène que tinha ficado muito corado e estupefacto com a ideia confusa que tinha de ter cometido algum erro estúpido.
- Canta? - disse ela, indo até ao piano onde atacou com violência as teclas, tocando-as de cima a baixo. Rrrrah!
- Não, minha senhora.
O conde de Restaud andava de um lado para o outro.
- É pena, está desprovido de um grande meio de alcançar sucesso. - Ca-a-ro, ca-a-ro, ca-a-a-a-ro, non du-bi-ta-re - cantou a condessa.
Ao pronunciar o nome do pai Goriot, Eugène tinha dado um toque de varinha mágica, mas cujo efeito tinha sido o contrário daquele que tinham provocado as seguintes palavras: parente da senhora de Beauséant. Encontrava-se na situação de um homem introduzido por favor na casa de um amador de curiosidades e que, tocando sem querer numa estante cheia de figuras esculpidas, faz cair três ou quatro cabeças mal coladas. Queria atirar-se num precipício.