A cara da senhora de Restaud era seca, fria e os seus olhos que se tinham tornado indiferentes evitavam os do estudante infeliz.
- Minha senhora - disse este -, precisa de conversar com o senhor de Restaud, queira receber os meus cumprimentos e permitir-me...
- Sempre que vier - disse, precipitadamente, a condessa, interrompendo Eugène com um gesto -, pode ter a certeza de nos dar, tanto a mim como ao senhor de Restaud, a maior das alegrias.
Eugène inclinou-se com dignidade perante o casal e saiu seguido do senhor de Restaud, que, apesar dos seus reparos, o acompanhou até à entrada.
- Sempre que este senhor se apresentar - disse o conde a Maurício -, nem a senhora nem eu estaremos disponíveis.
Quando Eugène pôs o pé na escadaria da entrada, notou que chovia. «Ora essa», pensou para consigo, «vim fazer uma estupidez da qual ignoro a causa e o alcance, ainda por cima irei estragar o fato e o chapéu. Deveria ter ficar num canto a marrar Direito, só pensar em tornar-me um magistrado ríspido. Como posso andar no mundo quando, para aí vingar como deve ser, é preciso não sei quantos cabriolés, botas engraxadas, acessórios indispensáveis, fios de ouro, logo de manhã luvas de pele de gamo brancas, que custam seis francos, e sempre luvas amarelas à noite? Mas que curioso velho me saiu este pai Goriot, ora essa!»
Quando chegou debaixo do portão da rua, o cocheiro de um carro de aluguer, que tinha talvez acabado de deixar um jovem casal e não tinha nada contra roubar ao patrão algumas corridas de contrabando, fez um sinal a Eugène ao vê-lo sem guarda-chuva, de fato preto, colete branco, luvas amarelas e botas engraxadas. Eugène estava dominado por uma dessas raivas surdas que levam um jovem a enfiar-se cada vez mais no abismo onde entrou, como se lá esperasse encontrar uma feliz saída.
