O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 67 / 279

O senhor de Ajuda-Pinto ia casar.

A boda era com uma das meninas de Rochefide. Em toda a alta sociedade uma única pessoa ignorava ainda esse casamento, essa pessoa era a senhora de Beauséant. Algumas das suas amigas tinham-lhe falado disso muito vagamente, ela tinha rido, pensando que estas queriam perturbar uma felicidade invejada. No entanto, os convites iriam ser enviados. Apesar de ter vindo a casa da viscondessa para lhe notificar esse casamento, o belo português ainda não tinha tido a coragem de dizer uma palavra traiçoeira sobre o assunto. Por quê? Nada talvez é mais difícil do que comunicar a uma mulher semelhante ultimatum. Alguns homens estão mais à vontade, no terreno, frente a um homem que lhes ameaça o coração com uma espada do que frente a uma mulher que, após ter declamado durante duas horas as suas elegias, finge que morre e pede os sais. Portanto, neste preciso momento, o senhor de Ajuda-Pinto estava em pulgas e queria ir-se embora, dizendo-se que a senhora de Beauséant saberia a notícia, que ele iria escrever-lhe, que seria mais cómodo tratar este galante assassinato por correspondência do que de viva voz. Quando o criado de quarto anunciou o senhor de Rastignac, fez sobressaltar de alegria o marquês de Ajuda-Pinto. Estejam bem conscientes de que uma mulher apaixonada é ainda mais hábil a engendrar dúvidas na sua cabeça do que a variar o prazer. No momento de ser abandonada, adivinha mais rapidamente o sentido de um gesto do que o cavalo de Virgílio cheira os longínquos corpúsculos que lhe anunciam o amor. Assim, tende a certeza de que a senhora de Beauséant surpreendeu esse gesto involuntário, leve, mais ingenuamente assustador. Eugène ignorava que nunca nos devemos apresentar na casa de quem quer que





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