Capítulo 1: O PAI GORIOT
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Pois bem! Esse Goriot, que vendia milho aos cortadores de cabeças, só teve uma paixão. Adora, diz-se, as filhas. Colocou a mais velha na casa de Restaud e a outra no barão de Nucingen, um rico banqueiro que se arma em monárquico. Compreende bem que, na altura do Império, os dois genros não fizeram muitas ondas por ter esse velho de 93 na sua casa; ainda se tolerava com os Bonapartes. Mas quando os Bourbons voltaram, o velho incomodou muito o senhor de Restaud e mais ainda o banqueiro. As filhas, que talvez ainda amassem o pai, quiseram salvaguardar o queijo e a manteiga, o pai e o marido; receberam Goriot quando não tinham ninguém, imaginaram pretextos de carinho. «Papá, venha, estaremos mais à-vontade porque estaremos sozinhos!», etc. Eu, minha querida, penso que os verdadeiros sentimentos têm olhos e inteligência: o coração desse pobre de 93 sangrou então. Viu que as filhas tinham vergonha dele, que, se elas amavam os maridos, ele prejudicava os genros. Foi então preciso sacrificar-se. Sacrificou-se, porque era pai: baniu-se a ele próprio. Ao ver as filhas contentes, compreendeu que tinha feito bem. O pai e as filhas foram cúmplices desse pequeno crime. Vemos isso em todo o lado. Esse pai Goriot não teria sido uma mancha de óleo no salão das filhas? Ter-se-ia lá sentido pouco à vontade, incomodado. O que acontece a esse pai pode acontecer à mais bela mulher com o homem que mais amar: se ela o aborrece com o seu amor, ele parte, vai fazer cobardias para fugir dela. Todos os sentimentos chegaram a isso. O nosso coração é um tesouro, esvaziai-o de uma só vez, fica pobre. Não perdoamos mais a um sentimento por se ter revelado por inteiro como a um homem por não ter um tostão. Esse pai tinha dado tudo. Tinha dado, durante 20 anos, as entranhas, o amor; tinha dado a fortuna num só dia.
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