As verdadeiras emoções são tão comunicativas que durante um momento estas três pessoas olharam-se em silêncio.
- Ai, meu Deus - disse a senhora de Langeais -, sim, parece ser bem terrível e vemos isso todos os dias. Não haverá uma causa para isso? Diga-me, minha querida, já pensou no que é um genro? Um genro é um homem para quem nós criamos, você e eu, uma querida criatura à qual estamos apegadas por mil laços, que durante 17 anos será a alegria da família, que é a sua alma branca, diria Lamartine, e que se tornará na peste da mesma. Quando esse homem no-la tiver tirado, começará por cortar o amor dela com um machado, para cortar pela raiz no coração desse anjo todos os sentimentos pelos quais se apegava à família. Ontem, a nossa filha era tudo para nós, nós éramos tudo para ela; no outro dia é nossa inimiga. Não vemos essa tragédia acontecer todos os dias? Aqui, a nora é a maior impertinente para com o sogro, que tudo sacrificou pelo filho. Mais longe, um genro mete a sogra à porta. Quero perguntar o que há de dramático hoje na sociedade, mas o drama do genro é assustador, sem contar com os nossos casamentos que se tornaram coisas bem tolas. Tenho perfeita consciência do que aconteceu a este velho fabricante de aletria. Penso recordar-me desse Foriot...
- Goriot, senhora.
- Sim, esse Goriot foi presidente da sua secção durante a Revolução; esteve no segredo da grande pobreza e iniciou a sua fortuna vendendo nesses tempos farinha 10 vez mais caro do que aquilo que lhe custava. Rendeu-lhe tanto quanto queria. O intendente da minha avó vendeu-lhe quantias enormes. Esse Goriot dividia talvez, como todas as pessoas, com o Comité da Salvação Pública. Lembro-me que o intendente dizia à minha avó que ela podia ficar com toda a segurança em Grandvilliers porque o seu milho era uma excelente carta cívica.
