O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 79 / 279

Agora sei tudo. Quanto mais friamente calcular, mais avançará. Batei sem piedade, será temido. Aceitai os homens e as mulheres apenas como cavalos de corrida que deixará morrer em cada paragem, chegará assim àquilo que anseia. Repare, não será nada aqui se não tiver uma mulher que se interesse por si. Precisa dela jovem, rica, elegante. Mas se tem um sentimento verdadeiro, escondei-o como um tesouro; nunca deixai ninguém adivinhá-lo, estaria perdido. Já não seria o carrasco, tornar-se-ia a vítima. Se alguma vez amar, guarde bem o seu segredo! Não o revele antes de saber muito bem a quem irá abrir o seu coração. Para preservar antecipadamente esse amor que ainda não existe, aprenda a desconfiar deste mundo. Ouça-me, Miguel... (ela enganava-se no nome ingenuamente sem se aperceber disso) se existe algo mais assustador do que o abandono do pai pelas duas filhas, que o desejariam ver morto, é a rivalidade das duas irmãs entre si. Restaud tem um nascimento de sangue, a mulher foi adoptada, foi apresentada, mas a sua irmã, a sua rica irmã, a bela senhora Delphine de Nucingen, mulher de um homem de dinheiro, morre de desgosto e tristeza; o ciúme rói-a, ela está a cem léguas da irmã; a sua irmã já não é mais sua irmã; estas duas mulheres renegam-se entre si tal como renegam o pai. Assim, a senhora de Nucingen lamberia toda a lama que há entre a Rua de Saint Lazare e a Rua de Grenelle para entrar no meu salão. Pensou que de Marsay iria ajudá-la neste intento, tornou-se escrava dele, aborrece-o até mais não. De Marsay preocupa-se pouco com ela. Se ma apresentar, tornar-se-á no seu Delfim, ela irá adorá-lo. Amai-a se puder depois, senão sirva-se dela. Irei vê-la uma vez ou duas, em grandes festas, quando houver muita gente, mas nunca a receberei de manhã.




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