O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 80 / 279

Irei cumprimentá-la, isso será suficiente para ela. Você fechou a porta da condessa por ter pronunciado o nome do pai Goriot. Sim, meu caro, poderia ir vinte vezes a casa da senhora Restaud, vinte vezes ela estaria ausente. Foi-lhe proibida a entrada. Pois bem! Que o pai Goriot o introduza junto da senhora Delphine de Nucingen. A bela senhora de Nucingen será para si um estandarte. Seja o homem que ela distingue, as mulheres irão adorá-lo. As suas rivais, amigas e melhores amigas quererão tirá-lo dela. Há mulheres que amam o homem já escolhido por outra, tal como há pobres burgueses que, ao pôr o nosso chapéu, pensam adquirir as nossas maneiras. Terá sucesso. Em Paris, o sucesso é tudo, é a chave do poder. Se as mulheres o acham espirituoso, com talento, os homens irão crê-lo, se não os enganar. Poderá então ter tudo o que quer, porá o pé em todo o lado. Saberá então o que é o mundo, uma reunião de simplórios e intrujões. Não se coloque nem nuns nem noutros. Dou-lhe o meu nome como um fio de Ariana para entrar neste labirinto. Não o comprometa - disse levantando o pescoço e deitando um olhar de rainha ao estudante -, entregai-mo imaculado. Ide, deixai-me. Nós, mulheres, também temos batalhas para travar.

- Se precisasse de um homem de boa vontade para ir atear o fogo numa mina? - disse Eugène, interrompendo-a.

- Pois sim? - disse ela.

Bateu no peito, sorriu ao sorriso da prima, e saiu. Eram 17 horas. Eugène tinha fome, temeu não chegar a tempo para a hora do jantar. Este receio fez-lhe sentir a felicidade de ser transportado rapidamente por Paris. Este prazer puramente maquinal deixou-o envolto nos pensamentos que o assaltavam. Quando um jovem da sua idade é atingindo pelo desprezo, deixa-se levar, fica raivoso, ameaça com o punho toda a sociedade, quer vingar-se e duvida de si mesmo.





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