Um Episódio no Tempo do Terror - Cap. 1: UM EPISÓDIO NO TEMPO DO TERROR Pág. 11 / 21

- Calou-se e depois continuou:

- Minhas irmãs: se lhes acontecer alguma desgraça, podem crer que em nada contribuí para isso... Tenho um pedido a fazer-lhes.

Elas continuavam caladas.

- Se eu as importunar, se... as incomodar, falem livremente... retirar-me-ei; mas fiquem sabendo que lhes sou muito dedicado; que, se há qualquer coisa que eu possa fazer pelas irmãs, podem dispor de mim sem receio, e eu só talvez esteja acima da lei, visto que já não há rei...

Havia uma tal inflexão de sinceridade nestas palavras que a irmã Agata - aquela das duas religiosas que pertenciam à casa de Langeais, e cujas maneiras pareciam denunciar que conhecera outrora o esplendor das festas e que respirara o ar da corte - deu-se pressa a apontar. para uma das cadeiras como para solicitar do seu hóspede que se sentasse. O desconhecido manifestou uma espécie de alegria à mistura com uma certa tristeza ao compreender esse gesto, e esperou que as duas respeitáveis senhoras se sentassem para se sentar também.

- As senhoras receberam em sua casa - continuou ele - um venerável padre não-ajuramentado, que milagrosamente escapou aos massacres dos Carmes...

- Hosanna! - disse a irmã Agata, interrompendo o desconhecido e fitando-o com uma inquieta curiosidade.

-Não se chama assim, creio eu - respondeu ele.

- Mas, senhor, nós não temos aqui nenhum padre - tornou-lhe vivamente a irmã Marta - e... - Então precisam de ter mais cautela e precaução - replicou, suavemente, o estranho, estendendo o braço para a mesa e pegando num breviário. Quer-me parecer que não sabem latim, e...

Não disse mais nada, pois a emoção extraordinária que se pintou no rosto das duas pobres religiosas fê-lo recear ter ido longe de mais. Tremiam dos pés à cabeça e tinham os olhos cheios de lágrimas.





Os capítulos deste livro