Um Episódio no Tempo do Terror - Cap. 1: UM EPISÓDIO NO TEMPO DO TERROR Pág. 12 / 21

-: Sosseguem - disse-lhes ele, numa voz franca; eu sei o nome do vosso hóspede e os vossos, e há três dias já que sei tudo da vossa miséria e da vossa dedicação pelo venerável abade de...

- Chiu! - disse ingenuamente a irmã Agata, pondo um dedo nos lábios.

- Como vêem, minhas irmãs, se eu tivesse concebido o horrível intento de as atraiçoar, já o tinha podido fazer mais de uma vez...

Ao ouvir estas palavras o padre saiu do esconderijo e apareceu no meio do quarto.

- Não quero acreditar. senhor - disse ele ao desconhecido -, que faça parte do número dos nossos perseguidores, e confio em vós. Que quereis de mim?

A santa confiança do padre e a nobreza esparsa no seu rosto teriam desarmado assassinos. A misteriosa personagem. que viera animar aquela cena de miséria e de resignação, contemplou por momentos o grupo formado por aquelas três criaturas, depois, num tom de confidência, dirigiu-se ao padre nestes termos:

- Padre: eu vinha pedir-lhe que celebrasse uma missa de defuntos pelo descanso da abria... de uma... de uma pessoa sagrada cujo corpo nunca poderá descansar em terra santa...

O padre estremeceu involuntariamente. As duas religiosas, ainda sem compreenderem a quem o desconhecido aludia, ficaram de pescoço estendido, o rosto voltado para os dois interlocutores, numa atitude de curiosidade. O eclesiástico examinou o estranho: uma ansiedade não equívoca se pintava no rosto deste e os seus olhares exprimiam ardentes súplicas.

- Pois bem - respondeu o padre -, esta noite, à meia-noite, voltai aqui, e eu estarei pronto para celebrar o único serviço fúnebre que nos será possível oferecer em expiação do crime de que falais...

O desconhecido estremeceu, mas uma satisfação, ao mesmo tempo doce e grave, pareceu triunfar nele sobre uma dor secreta.





Os capítulos deste livro