Um Episódio no Tempo do Terror - Cap. 1: UM EPISÓDIO NO TEMPO DO TERROR Pág. 15 / 21

Em vez de pronunciar as palavras latinas:

Introibo ad altare Dei, etc., o padre, por uma inspiração divina, olhou para os três fiéis que representavam a França cristã, e disse-lhes, para fazer esquecer a miséria do pardieiro:

- Vamos entrar no santuário de Deus!

Ditas estas palavras, pronunciadas com uma unção penetrante, um sagrado pavor se apoderou do assistente e das duas religiosas. Sob as abóbadas de São Pedro de Roma, Deus não se teria mostrado mais majestoso do que então, naquele asilo de indigentes, aos olhos daqueles cristãos: e isto só prova que, entre o homem e Ele, qualquer intermediário parece inútil e que Ele só de si próprio retira a sua grandeza. O fervor do desconhecido era verdadeiro. Por isso o sentimento que unia as orações daqueles quatro servidores de Deus e do rei parecia unânime. As palavras santas ressoavam corno uma música celeste no meio do silêncio. Houve um momento em que as lágrimas saltaram dos olhos do desconhecido, no Pater noster. O padre acrescentou-lhe esta oração latina, que o estranho, sem dúvida compreendeu:

- Et remitte scelus regicidis sicut Ludovicus eis remisit semetipse! (E perdoai aos regicidas como Luís XVI lhes perdoou ele próprio!)

As duas religiosas viram duas grossas lágrimas traçando um caminho húmido ao longo das faces do desconhecido e acabando por tombar no soalho. O ofício dos mortos foi então recitado. O Domine, salvum fac regem, cantado em voz baixa, enterneceu aqueles fiéis realistas, que pensaram que o infante, por quem naquele momento imploravam o Altíssimo, estava cativo nas mãos dos seus inimigos. O desconhecido estremeceu ao pensar que ainda podia ser cometido um novo crime, no qual ele, sem dúvida, seria obrigado a participar.





Os capítulos deste livro