Se os ultrapassar, tudo nos correrá melhor,»
Ao princípio, limitava-me a sorrir-lhe, embora, sabe Deus, não me restasse muita coragem para o fazer. Finalmente, perdi a paciência.
«Sim, claro! A latitude de 8° e 20' sul. Foi aí que o senhor atirou ao mar o corpo do seu capitão, não foi?» Depois, com mais severidade: «Senhor Burns, não acha que já vai sendo tempo de se deixar desses disparates?».
Ele moveu na minha direcção os olhos profundamente escavados, numa expressão indomavelmente obstinada. A seguir, todavia, ficou-se por um murmúrio, não mais alto do que o indispensável para eu o poder ouvir, qualquer coisa como: «Não me admira nada... penso que ainda nos faz alguma partida idiota».
Momentos como este não eram propriamente encorajadores para a minha força de alma. O peso da adversidade começava a influenciar-me. Ao mesmo tempo, alimentava uma sensação de desprezo por essa fraqueza vaga que se fazia sentir dentro de mim. Desdenhosamente dizia para comigo que era preciso muito mais para abalar a minha força de espírito.
Nessa altura, ignorava ainda como esta viria a ser atacada muito em breve e do lado mais inesperado.
Foi logo no dia seguinte. O sol rompera límpido, por trás de uma lomba no sul da ilha Kohring, que continuava a flutuar, como uma companhia mal assombrada, à nossa alheta de bombordo. Sentia um ódio intenso à sua vista. Durante a noite tínhamos aproado a todos os rumos da bússola, mareando as vergas continuamente, aproveitando aquilo que imagino agora não terem sido, na maior parte, mais do que bafos imaginários de vento. Depois, quase ao nascer do sol, tivemos, durante uma hora, vento regular, um vento inexplicável, exactamente na proa. Não fazia sentido. Não condizia com a estação do ano nem concordava com a secular experiência dos navegantes, registada nas páginas dos livros, nem se coadunava com o aspecto do céu.
