Aquilo só podia ser atribuído a uma maldição premeditada. Fazia-nos navegar muito rapidamente fora do nosso rumo; e se estivéssemos dispostos a gozar o prazer de velejar, teria sido indubitavelmente uma aragem maravilhosa, juntamente com o fervilhar das águas despertas, com a sensação de velocidade e a impressão de uma frescura pouco habitual. A seguir, de súbito, como se se desinteressasse altivamente de levar mais longe aquela brincadeira feita de má vontade, o vento caiu e morreu por completo em menos de cinco minutos. A proa do navio guinou para o lado para onde ele estava a adornar; o mar, de novo sossegado, ficou, naquela calmaria, com o aspecto de uma superfície de aço polido.
Desci do tombadilho, não com a intenção de desfrutar um momento de descanso, mas simplesmente porque me era insuportável, na altura, continuar a ver aquilo. Infatigável, Ransome, entregava-se na câmara às suas ocupações. Transformara-se para ele numa prática regular apresentar-me todas as manhãs um relatório extra-oficial acerca do estado de saúde da tripulação. De junto do aparador, virou-se para mim com o seu habitual olhar afável e sereno. Não havia uma nuvem na sua fronte cheia de inteligência.
«Hoje há uma boa parte dos homens que não está nada bem, senhor comandante», disse, numa voz tranquila. «Como? Foram-se todos abaixo?»
«No beliche, para falar verdade só ficaram dois, mas...» «Foi a noite que acabou por arrumá-los. Estivemos a alar e a içar toda esta santa noite.»
«Eu ouvi, comandante. Tencionava vir cá fora dar uma ajuda, mas o senhor comandante sabe... »
«É claro que não devia fazer isso. Você não deve... Além disso, os homens durante a noite deitaram-se no convés e no castelo da proa. É o costume. Mas não lhes faz bem nenhum.