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Capítulo 7: V

Página 122

A tarde pusera-se extremamente mortiça. Durante vários dias seguidos, surgiam nuvens a pouca distância, volumes brancos em volutas enegrecidas, tocando as águas, imóveis, quase sólidas, e não obstante, mudando subtilmente de aspecto de momento a momento. Por altura do cair da noite, regra geral, desapareciam. Mas naquele dia estavam como que à espera do sol posto, que cintilou incandescente e se foi extinguindo numa labareda vagarosa antes de submergir por inteiro. Com a sua pontualidade fatigada, as estrelas reacenderam-se por cima das borlas da mastreação, enquanto a atmosfera permanecia, contudo, asfixiante e parada.

Ransome, sempre infalível, acendeu as luzes da bitácula e escorregou, como uma sombra, até ao meu lado. «Não quer vir lá abaixo comer qualquer coisa, senhor comandante?», lembrou-me.

Senti um sobressalto ao escutar a sua voz baixa. Eu tinha estado de pé, olhando por cima do balaústre, sem dizer uma palavra, sem sentir nada, nem sequer a fadiga das minhas pernas, dominado por aquele mal sortílego.

«Ransome», interroguei de forma abrupta, «há quanto tempo estou aqui em cima, no tombadilho? Começo a perder a conta ao tempo.»

«Há duas semanas, senhor comandante», respondeu ele. «Na segunda-feira fez quinze dias que largámos do ancoradouro.»

A voz dele, monótona e igual, era como uma toada queixosa. Depois de ficar ali um momento mais, à espera, acrescentou: «Pela primeira vez parece que vamos ter chuva».

Reparei então na vasta sombra no horizonte que fazia sumirem-se por completo as estrelas mais baixas, ao mesmo tempo que as mais próximas do zénite, quando voltei os olhos acima, pareciam cintilar, caindo na nossa direcção, como que através de uma cortina de fumo.

Como é que aquilo ali aparecera, como subira a tão grande altura, era-me impossível dizê-lo.

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pág. 122 (Capítulo 7)

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Capa do livro A Linha de Sombra
Páginas: 155
Página atual: 122

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Nota do autor 1
I 6
II 42
II 43
III 64
IV 90
V 106
VI 129