Gambril e eu, ambos tremíamos rudemente dentro das nossas roupas de algodão fino, encharcadas e coladas à pele. Eu disse-lhe:
«Agora, amigo, já não vai haver azar. Tudo o que é preciso que você faça é manter o vento nas costas. E disso é você bem capaz. Até uma criança seria capaz de governar o barco com o mar assim tão chão.»
Ele respondeu, murmurando apenas: «Sim, senhor! Mas uma criança saudável». Senti-me então envergonhado por ter sido poupado pelas febres que haviam dominado o vigor de todos os homens de bordo, menos o meu, para que o meu remorso fosse mais amargo, a minha sensação de inutilidade mais dolorosa e o sentido das minhas responsabilidades mais duro de assumir.
O navio tinha ganho um andamento decidido, quase de repente, por sobre o mar tranquilo. Sentia-o deslizar através da água sem outro ruído senão o do perpassar das ondas ao longo do costado, perpassar cheio de mistério. Em nenhum outro sentido revelava o mínimo movimento: nem ondeava, nem balançava. Aquela solidez de plataforma durava há dezoito dias e derrotava toda a coragem; porque nunca, palavra que nunca, dispusemos durante todo esse tempo de vento suficiente para fazer mexer no mar a menor agitação. Agora o vento refrescara bruscamente. Achei que já era mais que tempo de correr com Burns do tombadilho para fora. Ele afligia-me. Via-o como um louco perfeito, muito capaz de se pôr a passear pelo barco e de partir um braço ou uma perna, ou de cair ao mar.
Senti-me bastante aliviado ao verificar que se conservara agarrado, bastante sensatamente, no mesmo sítio em que eu o tinha deixado. Mas continuava a segredar, sem interrupção, para com os seus botões, de modo sinistro.
Era desencorajador. Disse-lhe, afectando indiferença: «Não tive nunca tanto vento, desde que saímos do porto.