.. o que é que então vamos fazer do navio?»
«Se o vento mudar muito de direcção quando estivermos perto de terra, ou o navio encalha na praia, ou vai-se-lhe a mastreação abaixo, ou acontecem-lhe as duas desgraças ao mesmo tempo. Não vamos poder fazer nada com ele. Por agora, nós os dois lá vamos fazendo-o correr com o vento na popa. Tudo o que podemos fazer é o serviço do leme. Isto é realmente um navio sem tripulação.»
«Sim. Os homens foram-se todos abaixo», repetiu Ransome, com toda a calma. «De vez em quando, lá vou até à proa ver deles. Mas quase nada mais posso fazer para os ajudar.»
«Eu, o barco e todos a bordo lhe devemos muitíssimo, Ransome», disse-lhe eu com calor.
Ele fingiu não me ter ouvido e continuou ao leme em silêncio até eu estar pronto a substitui-lo no governo. Então, passou-me a roda para as mãos, pegou na bandeja e, como despedida, lançou-me a informação de que Burns tinha acordado e parecia querer subir ao tombadilho.
«Não sei como hei-de impedir que ele o faça, senhor comandante. Não posso realmente passar o tempo todo lá em baixo.»
Evidentemente, não podia. Era indubitável. Burns veio assim de novo para o tombadilho, arrastando-se dificilmente para ré, dentro do seu imenso sobretudo. Olhei-o com natural apreensão. Com ele, ali ao meu lado, a delirar acerca das malfeitorias de um morto, enquanto eu precisava de me encarregar do leme de um navio, que avançava cheio de ímpeto para diante, carregado de moribundos, as perspectivas tornavam-se razoavelmente medonhas.
Mas as primeiras observações que me dirigiu foram muito ajuizadas, tanto na forma como no fundo. Era claro que não tinha a mais pequena recordação da noite anterior. Ou se a tinha, não o revelou, nem por uma vez. Também não falou muito.