«Oh!, meu Deus! Meu Deus! Oh! Não perca a cabeça desse modo. Faço sempre esta pergunta a toda a gente.» «Não acredito», disse-lhe eu com brusquidão.
«Bom, mas é o que vou passar a fazer. Se os senhores estivessem todos de acordo em pagar adiantado, eu sempre podia fazer com que Hamilton andasse igualmente com as contas em dia. Ele vem sempre para terra sem um tostão na algibeira, mas mesmo que traga algum dinheiro nunca paga a conta. Já não sei o que é que lhe hei-de fazer. Começa a rogar-me pragas e a dizer-me que não posso pôr um branco no olho da rua. Por isso, se ao menos o senhor...»
Eu sentia-me estupefacto. E também incrédulo. O tipo parecia estar a querer ser de uma insolência gratuita para comigo. Disse-lhe em termos bastante enfáticos que primeiro ainda havia de o ver a ele e ao Hamilton no inferno e que lhe implorava o favor de me levar ao meu quarto sem mais disparates daqueles. Ele lá tirou então uma chave não sei de onde e dispôs-se a sair da caverna, passando-me à frente para me indicar o caminho, ao mesmo tempo que me lançava um demorado olhar de través.
«Está cá alguém que eu conheça?», perguntei-lhe antes de ele se ir embora do meu quarto.
O homem recuperara o seu tom impaciente e queixoso, e respondeu-me que estava hospedado na casa o capitão Giles, regressado de uma viagem pelo mar das ilhas Salomão. Estavam também mais dois outros hóspedes. O homem calara-se por um instante. «E também, é claro, está cá Hamilton», acrescentou.
«Ah! Sim, Hamilton», disse eu, e a infeliz criatura começou a sair do quarto, soltando entretanto um último gemido.
O atrevimento do despenseiro ainda me fazia sofrer quando, à hora do tiffin, me dirigi à sala de jantar. Ele lá estava de serviço, tomando conta dos criados chineses.