«Pois sim, está bem. Mas lembra-se das palavras certas que eles disseram?», insistiu o capitão, com toda a cautela: «Não sei. Não tenho nada com essa história», exclamei com brusquidão, votando ao mesmo tempo, em voz alta, à condenação eterna Hamilton e o despenseiro.
Tencionava com aquilo manifestar uma enérgica decisão de pôr fim a toda a história, mas o capitão Giles continuava sem tirar os olhos de cima de mim, meditabundo. Era impossível calá-lo. E ele continuou, chamando-me agora a atenção para o facto de ter sido a minha pessoa o objecto da conversa dos outros dois. Depois, quando tentei afectar uma atitude de indiferença, tornou-se abertamente cruel. Eu não havia ouvido o que o homem dissera? Não? E que achava, nesse caso, daquilo tudo? Ele queria sabê-lo. Uma vez que todo o ar do capitão Giles afastava qualquer suspeita de malícia oculta, cheguei à conclusão de que ele era apenas o imbecil mais destituído de tacto que podia existir à face da terra. Sentia quase desprezo também por mim próprio, ao tentar esclarecer aquele entendimento tão vulgar. Comecei por lhe explicar que não entendia nada, palavra, coisa nenhuma, da conversa dele. Hamilton não merecia um único pensamento. O que um vadio incómodo como ele... - «Sim, senhor! É isso que ele é realmente», interrompeu-me o capitão - ...pensasse ou dissesse encontrava-se abaixo do poder de ofender qualquer pessoa decente e eu propunha-me não lhe atribuir a menor importância.
Era uma resolução que se me afigurava tão simples e tão óbvia que fiquei de facto admirado por o capitão Giles não me manifestar o mais pequeno sinal de concordância. Uma estupidez tão imensa chegava quase a ser interessante.
«Que queria o senhor que eu fizesse?», perguntei-lhe, rindo.
