«Não posso armar uma cena com ele por causa da ideia que ele faz de mim. Sem dúvida que ouvi a maneira desdenhosa como aludiu à minha pessoa. Mas esse desdém, ele não me deu a ver abertamente. Nunca mo manifestou de modo directo e pessoal. Ainda há pouco, nem sequer sabia que o podíamos estar a ouvir. Respondendo-lhe, eu seria apenas ridículo...»
Mas o capitão não tinha cura; continuava a chupar com mau humor o seu cachimbo. De súbito, com o rosto iluminado; falou de novo:
«O senhor não percebeu o que eu lhe disse.»
«Ah, não? Sinto-me muito satisfeito por mo dizer», acrescentei.
Com mais vivacidade ainda, ele voltou a observar que não o compreendera. Que não compreendia absolutamente nada. E num tom de condescendência, deliberado e crescente, disse-me que poucas coisas lhe podiam escapar à atenção, que era seu hábito pensar nas coisas, e que, de um modo geral, graças à experiência da vida e dos seres humanos que possuía, chegava a conclusões acertadas.
Esta pequena digressão de auto-elogio convinha magnificamente, sem sombra de dúvida, à fatuidade de toda aquela conversa. Isso confirmava em mim a impressão obscura de que a vida não passa afinal de uma perda de tempo, impressão que, de maneira quase inconsciente, me arrebatara para longe de um cómodo beliche, afastando-me de gente por quem tinha a maior estima, com o objectivo de fugir ao vazio... e agora, de novo a mesma impressão de futilidade me surpreendia ao dobrar da primeira esquina. Ali estava um homem cujo carácter e acções todos apreciavam, mas que se mostrava um fala-barato disparatado e maçador. Provavelmente, era sempre assim em todo o lado - do oriente ao ocidente, do mais baixo ao mais alto da escala social.
Um grande desânimo tomou conta de mim, um pesado espírito de desalento.