As grandes escadas do interior deslizaram, por assim dizer, sob os meus passos. Um lugar de comando possui uma magia muito intensa. Os primeiros seres humanos que distingui com nitidez depois de me ter despedido do dar de costas ofendido do capitão Giles foram os da tripulação da barcaça a vapor da capitania, que estavam ali pelo patamar, junto a porta protegida por cortinas da repartição da marinha mercante.
Foi então que toda a leveza de espírito me abandonou. A atmosfera burocrática tem uma acção mortal sobre todas as coisas que vivem do esforço humano; põe também fim, sob a supremacia do papel e da tinta, a todo o temor e toda a esperança. Eu passei devagar por baixo do reposteiro que o patrão malaio da lancha a vapor da capitania soergueu. Na repartição não havia ninguém, para além dos empregados que escreviam, distribuindo-se por duas filas diligentes. O escrivão da capitania desceu a seguir do seu alto poiso e vero, pressurosamente, por cima de uma passadeira espessa, ao meu encontro, atravessando a larga coxia central.
O homem tinha um nome escocês, mas a pele do seu rosto era de um tom carregado de azeitona, a barba curta Ta negra de azeviche, e os olhos, negros também, apresentavam uma expressão langorosa. Interrogou-me de modo confidencial:
«Deseja ser recebido por Ele!»
Perdida toda a minha leveza de corpo e espírito ao contacto daquele ambiente oficial, olhei para o escrivão sem o menor entusiasmo e, pelo meu lado, perguntei-lhe com dificuldade:
«O que é que acha? Acha que pode valer a penar» «Deus nos valha! Ele já perguntou hoje duas vezes por si.» Aquele Ele enfatizado designava a autoridade suprema, o capitão do porto... - figura da máxima importância aos olhos de cada um dos mangas de alpaca que se encontrava naquela repartição.
