O comandante Ellis considerava-se uma espécie de exalação divina (pagã), um vice-Neptuno dos mares circundantes. Se, de facto, não se podia dizer que governasse as ondas, comandava a sorte dos seres mortais, cujas vidas se jogavam por sobre as águas daqueles mares.
A sua ilusão exaltada fizera-o inquisidor e autoritário.
Como era de temperamento colérico, havia muita gente que tinha realmente medo da sua pessoa. Não eram as suas funções, mas antes a presunção desmedida, o que o tornava realmente de temer. Por mim, nunca anteriormente tivera caso algum a tratar com ele.
«Oh! Já perguntou por mim duas vezes? Então, talvez o melhor seja eu ir entrando.»
«Mas com certeza, com certeza!»
O escrivão passou à frente, para me mostrar o caminho, com passos amaneirados, rodeando toda ~ linha das secretárias, e dirigindo-se para uma porta subida e de configuração imponente, abrindo-ma depois com um movimento de braço extremamente deferente.
Entrou (sem tirar, porém, a mão do fecho da porta), e, depois de fitar com reverência durante uns instantes o fundo do gabinete, fez-me sinal por meio de uma inclinação silenciosa da cabeça. A seguir deslizou cá para fora com toda a rapidez e fechou a porta nas minhas costas, tudo com a maior delicadeza do mundo.
Três altas janelas davam para o porto. Neste não se via senão o azul ferrete esplendente do mar e o azul mais claro e pálido do céu. Os meus olhos iam descobrindo, nas funduras e nas distâncias variáveis de todos aqueles tons de azul, o sinal branco de algum grande navio acabado de aportar e pronto já a largar ferro de uma doca exterior. Um navio da metrópole.