«E que foi que o senhor lhe contou a esse respeito?»
«Limitei-me a explicar-lhe que me fora apresentar logo que tivera conhecimento do seu recado. De facto, não lhe disse mais nada. Não tencionava fazer mal ao despenseiro. Sentia o maior desprezo só pela ideia de prejudicar uma coisa daquela espécie. Não. Não apresentei queixa, mas estou certo de que ele julga que sim. Deixe-o estar. Apanhou um tal susto que não o há-de esquecer tão depressa, com medo que o comandante Ellis o mande com um pontapé para o meio da Asia...»
«Espere um momento por mim», disse o capitão Giles, afastando-se bruscamente. Eu sentei-me, tomado por uma sensação de extremo cansaço, sobretudo na cabeça. Mas antes de ter podido ordenar a menor linha de ideias, já o capitão estava de novo à minha frente, murmurando uma desculpa por causa de ter ido levar um pouco de paz à consciência aterrorizada do outro.
Levantei os olhos para ele, muito surpreendido. Aquilo, porém, era-me indiferente. O capitão explicou-me que fora dar com o despenseiro deitado de barriga para baixo no sofá de crina. Agora já estava bem.
«Ele não ia, mesmo assim, morrer de susto», disse eu com desprezo.
«Não, mas podia muito bem tomar uma dose excessiva de um daqueles frasquinhos que tem sempre ao lado dele, lá no quarto», retorquiu o capitão Giles muito a sério. «O desgraçado idiota já tentou matar-se uma vez... há uns anos.»
«Verdade?», disse eu sem qualquer emoção. «De qualquer maneira, ele não me parece estar em boas condições para continuar com a vida.»
«Quanto a isso, o mesmo podia dizer-se de uma boa quantidade de gente.»
«Não se ponha a exagerar assim!», protestei rindo, com um tom irritado. «O que eu não sei é o que seria desta parte do mundo, se o senhor deixasse de olhar por aquilo que cá se passa, capitão Giles! Acabou numa só tarde por me arranjar o lugar de comando de um navio e por salvar a seguir a vida do despenseiro.
