Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 4: II

Página 55
Não se podia negar que fora ele o autor de tudo aquilo. Foi ainda a sua voz que se fez ouvir, enquanto eu hesitava por momentos em busca de uma palavra adequada.

«Prevejo que você há-de ver-se com as mãos a abarrotar de casos complicadíssimos.»

Quando inquiri o que o faria pensar desse modo, ele respondeu-me que se tratava da sua experiência das coisas da Vida em geral. Há muitos navios que podem encontrar-se um dia longe do seu porto de armamento, os proprietários podem muito bem encontrar-se fora de contacto através do cabo submarino, e então, morta e enterrada a única pessoa que poderia explicar as coisas...

«E com o senhor, para mais, ainda um tanto novo nestas andanças», concluiu ele num tom sem margem para resposta.

«Não insista», disse-lhe eu. «Sei muito bem tudo isso.

Só gostava era que o senhor me desse um bocado da sua experiência antes de me ir eu embora. Mas como tal não é possível em dez minutos, o melhor é não me pôr agora a fazer-lhe perguntas. Para mais, já ali está a lancha da capitania à minha espera. O certo é que não me hei-de sentir descansado antes de ver o meu navio fora do porto, no oceano Indico.»

O capitão Giles fez-me então notar, em tom casual, que de Banguecoque ao oceano Indico havia ainda um bom pedaço de caminho. E as suas palavras murmuradas, como o ténue lampejar de uma lanterna a furta-fogo, mostraram-me, no mesmo instante, a grande cintura de ilhas e recifes que se espraiava entre esse navio, que ia ser o meu, e a liberdade dos imensos mares da terra.

Todavia, não me sentia nada apreensivo. Naquele tempo, o arquipélago era-me bastante familiar. Uma paciência infinita e uma cautela de homem prevenido haviam de me ajudar a desenvencilhar-me naquela zona de parcéis, ventos fracos e águas mortas, levando-me até esse outro espaço onde, por fim, eu sentiria o meu navio a balouçar ao sabor das ondas largas, adornando ao soprar forte dos ventos abertos, que lhe iam insuflar o sentido de uma vida mais rasgada e mais intensa.

<< Página Anterior

pág. 55 (Capítulo 4)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Linha de Sombra
Páginas: 155
Página atual: 55

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Nota do autor 1
I 6
II 42
II 43
III 64
IV 90
V 106
VI 129